2- Droga de tédio

Quando olhava para ele e não via nada que me atraísse fisicamente, me perguntava como tinha sido possível eu ter me apaixonado por ele no final do ano passado. Mas então me lembrava de toda aquela atenção que ele me dava, eu me sentia realmente muito especial ao lado dele.
“Nossa, muito tempo mesmo... Seu chato, sumiu e me deixou com saudades.”, podia até sentir algumas lágrimas tímidas nascendo nos meus olhos.

Por que ele tinha que ter me deixado tão aflita?
Ele sorriu convencido, não combinava com ele, ficava torto e feio.
“Depois que você me abandonou...”, ele tentou começar.
Interrompi com um olhar estreito, “Não foi bem assim, Bruno...”.

O Bruno riu, “Foi só uma brincadeira sem graça.”.
“Nem falo nada.”.
Ele tocou de leve no meu ombro e fez um carinho rápido e tímido.
“Desculpa. Viajei com a minha família no final do ano e nem tive tempo de usar a internet.”, Bruno.

Sentia-me mal por não poder retribuir o que ele sentia por mim.
“Ui! E o que o meu amigo ficou aprontando aonde só Deus sabe?”.
Gostava de fazê-lo sorrir, era tão fácil...
“Dançando em boates noturnas. Foi bem legal, fiz algumas amizades e... Bem, dancei muito.”.

Ri com a animação dele e fiquei um tanto assustada e curiosa com a parte 'dançando'... Parecia improvável, mas eu acreditava em tudo que ele me dizia.
O sinal para a primeira aula tocou.
“Falei tanto que acabou você nem me contando como foram as suas férias.”, ele lamentou.

“Bem, eu não tenho planos pra morrer agora, então acho que teremos tempo. O saco é ter que assistir a essas aulas.”, lembrei-me que não teria meus amigos por perto e fiquei irritada novamente.
“Não vai assistir?”.
“Estou pensando seriamente nisso. Mas acho que vou ficar por aqui mesmo.”.

“Hum...”, ele parecia inclinado a não assistir a aula também.
Ele matando aula pra ficar comigo... Não!
Não queria matar aula pra ter que ficar me preocupando com ele se derretendo todo pra mim. Era ótimo poder conversar com ele novamente, mas aquele olhar apaixonado me incomodava.
“Vai lá assistir a sua aula, vai... Vou aproveitar pra ficar dormindo aqui fora.”, tentei induzi-lo.

“É mesmo... Você deve estar cansada, não é?! Se quiser pegar a matéria comigo depois é só falar, não precisa ficar com vergonha.”, ele sorriu e ficou sem jeito para se despedir de mim.
Ao menos alguém no mundo me achava tímida! Mas era engraçado vê-lo envergonhado e tentando parecer justamente o contrário.
Eu o abracei, facilitando. Ele saiu todo sorridente.

Joguei-me no banco, me deitando.
Tinha mesmo alguma coisa que eu podia fazer para que ele simplesmente fosse meu amigo sem toda aquela complicação de estar apaixonado por mim?
Se eu fosse para sala naquele momento ainda poderia assistir à aula, mas teria que ver a cara de desagrado do professor e mais os olhos curiosos dos meus colegas. De forma alguma eu estava interessada nisso.
Ficar ali no pátio da escola era suicídio. Era só questão de tempo até que alguém me arrastasse para a direção.

Ver o Ákyl... Não mesmo.
Do jeito que eu tinha sorte, se fosse tentar me esconder pela escola, me achariam da mesma forma.
Pra onde ir? Casa, não. Passear sozinha, não.
Então me lembrei de um lugar perfeito para matar aula. Não tão perfeito, mas era o único lugar que parecia mais interessante naquele momento. O ginásio. Sempre tinha alguém treinando por lá. De tédio eu não morreria, pensei.

Assim que me decidi, saí apressada, estaria tudo perdido se alguém me visse antes de chegar lá. Fazer esse tipo de coisa sempre me deixava mais nervosa do que gostaria. Eu nunca tinha matado aula sozinha antes, exatamente porque não sabia fazer direito. Estava já imaginando o momento que alguém me carregaria para a direção.
Vi outros alunos por lá sentados e conversando, enquanto outros usavam a quadra de basquete. Podia jurar que aqueles sentados estavam matando aula também...

Sentei e lamentei não estar com meu MP4, música ajudava sempre. Se bem que eu não podia reclamar podendo ver todos aqueles braços definidos e ágeis que há tempos não via. Chato era não ter com quem conversar.
Peguei o celular, fiquei grata por ainda estar carregado, e pensei em quem chamaria para me fazer companhia...
As meninas, não. Meus primos... Não também. Jack?... Também não era uma boa ideia. Ótimo, tantos amigos e vou ficar sozinha do mesmo jeito!

Escolhi um lugar mais afastado e dormi. Enganei-me ao pensar que não seria tedioso. Sem companhia sempre seria tedioso...
Fiquei surpresa ao acordar e ver que tinha dormido pela maior parte da manhã. Tinha várias novas mensagens no meu celular. Revirei os olhos já imaginando as broncas dos meus amigos. A maioria perguntava onde eu estava e claro me davam broncas. Só o Jack parecia mais preocupado, por isso depois de responder a todos que estava viva, sem dizer onde estava, liguei para o Jack.

Sequer pensei que ele poderia estar assistindo aula...
“Ly?”, Jack.