domingo, 23 de maio de 2010

7- Nostalgia idiota!

 
Sorri agradecida, “Acho bom...”.
Ele olhou sobressaltado para o pulso, “Tenho um compromisso agora. Vou correndo na frente.”, e ele saiu correndo mesmo.

 
“Ei!”, gritei impulsivamente.
Ele parou e se virou.
“Tchau pra você também, estranho!”.

 
Lá estava novamente a sua expressão de convencido e sem nenhum sorriso para abrandar. Caminhou até a minha direção sem pressa e aos poucos a sua expressão passou a carregar charme e insinuações. Ele chegava muito perto, me intimidando. Afastei-me e acabei encostando na parede atrás de mim. Ele parecia gostar.
Puxou o meu queixo para cima fazendo com que nossos rostos se encontrassem, “Até logo, gata...”, encostou os seus lábios nos meus e eu abaixei o rosto que foi repuxado para cima logo em seguida. Não tentei mais resistir.

 
Depois do beijo ele se afastou sorrindo, “Agora sim é um tchau. Aprende, porque eu só aceito assim.”, e sumiu antes que eu pudesse responder malcriadamente.
Quando recuperei o meu fôlego olhei para os lados, temerosa por alguma plateia. Fiquei agradecida quando não vi ninguém.

 
Tentei abrir a porta da sala dos meus amigos, mas já estava trancada.
Ninguém esperou por mim.
Eu sabia que se fosse para a sorveteria ou para a lanchonete os encontraria, mas não podia ir me sentindo daquele jeito. Só estragaria a noite deles.

 
Passei pelo final do corredor até a porta de saída com pressa, queria logo chegar em casa.
“Lily!”, aquela voz grave era inconfundível.
Meu coração acelerou com a surpresa e já não consegui mais segurar uma lágrima boba, mas ela não desceu com a tristeza que se formou... Era de alívio e vinha acompanhada de um sorriso. Mas sequei com pressa, antes de me virar.
“Jack!”.

 
“Pensei que não fosse mais...”, o interrompi quando saltei o abraçando, “Ei, ei... O que aconteceu?”.
Como ele podia me conhecer tão bem assim?
“Não queria ir sozinha pra casa.”, uma meia verdade.
“Já quer ir pra casa?! O pessoal está na lanchonete nos esperando.”.

 
“Não sei se é uma boa ideia. O Ricardo está com raiva de mim.”.
Jack abriu um curto sorriso, “Não acho que seja bem assim. Se você quiser, eu converso com ele.”.
Os dois eram amigos e o Jack era bom em perceber as coisas. Ele era um ótimo observador. Devia saber o que era.
Como não pensei nisso antes?!

 
“Mas o que é então?”.
“Me deixa conversar com ele primeiro...”.
Concordei com a cabeça e suspirei pesarosa. Esperar não era o meu forte, mas eu esperaria.
“E então... Podemos ir?”, Jack.
“Acho que prefiro mesmo ir pra casa, Jack...”.
“Tudo bem.”

 
“Ah! Não! Melhor ainda... Você ainda tem como tocar agora?”, mas me arrependi logo em seguida. Ele devia estar cansado e eu estava sendo egoísta, “Não, deixa isso. Vocês ainda gravam os ensaios?”.
“Não tenho problema em tocar agora... E sim, gravamos. Está ali na sala o gravador.”.
“Não precisa tocar nada não. Só queria poder ouvir alguma coisa antes de ir embora. Está com pressa?”.

 
“Não.”, pegou a minha mão me guiando até a sala.
Eu já podia me sentir melhor, assim que pisei naquela sala novamente. Eu fui com pressa até o aparelho, mas antes que eu pudesse ligar, percebi o meu amigo distante de mim. Jack estava pegando o baixo.

 
Ele não disse nada quando começou a tocar. O som tomava conta da sala e eu sentia as batidas do meu coração acompanhando a música. Era lindo ver o Jack tocando, mas fechei os meus olhos para me sentir completamente envolvida pelas emoções que aquele som despertava em mim. Era muito forte...
Mas de repente ele parou. Cedo demais. Abri meus olhos ainda desejando mais.

 
“Vai mesmo participar do teatro? Gostou da tarde hoje?”.
Levei tempo para encontrar novamente as palavras na minha mente.
“Vou ser a personagem principal novamente. Parece que encontrei alguma coisa em que eu seja razoável.”, eu sorri, mas não fui acompanhada.

 
“Você sabe muito bem que pode ser o que você quiser. E tenho certeza de que será sempre ótima no que escolher.”.
Era melhor não retrucar, mesmo que eu não concordasse. Se fosse assim eu estaria na banda deles. As coisas não eram tão simples e fáceis assim.
Ignorei o seu comentário, “A única coisa ruim é que não posso mais ficar aqui com vocês. Antes eu podia enrolar as meninas e passar quase a tarde toda com vocês, mas agora é impossível. Em vez de ouvir a linda voz da Tali, tenho que ouvir a da Fernanda... Será que ela não fica cansada falando tanto?”.

 
Consegui ver o Jack sorrindo.
“Tenho que ligar pra Tali avisando que não vamos.”, e catou o celular do bolso.
“Vou pegar um refri pra gente...”.
Deixei a sala e fui até a máquina de refrigerante. Tantas opções... Fiquei pensando se eu queria mesmo refrigerante, quando ouvi meu amigo me chamando.

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